terça-feira, 26 de junho de 2012

DÍNAMIS (47- 14 a.C.)

Dínamis Filorromana (em grego: Δύναμις Φιλορώμαίος, Dynamis Philoromaios, Dínamis, amiga dos romanos) viveu entre 67 e 14 a.C. e foi uma rainha cliente romana do Reino Bosforano durante a fase final da República Romana e o início do governo do primeiro imperador romano César Augusto. Dínamis é um nome grego que significa ''a poderosa". Ela era uma monarca de ascendência iraniana e greco-macedônica. Ela era a filha do rei do Ponto Fárnaces II e sua esposa de origem sármata. Os sármatas eram uma tribo de origem iraniana (assim como os persas) e estavam muito relacionados aos citas. Eles viviam nas estepes do Mar Negro e ao redor do reino do Bósforo. Possivelmente o casamento de Fárnaces com uma princesa sármata visou garantir uma aliança entre os bosforanos e os sármatas.
Athena. Garnet in the gold ring. East Mediterranean. Late 4th — early 3rd century B.C. 3.2 × 2.4 cm. Saint-Petersburg, The State Hermitage Museum.
Anel com a efígie de Atena oriundo de Panticapeu
E um dos frutos dessa aliança foi Dínamis. Ela tinha um irmão chamado Dario e um irmão mais novo chamado Arsaces. Seus avós paternos eram Mitrídates VI Eupátor do Ponto e da sua primeira esposa Laodice. Dínamis nasceu e foi criada no Reino do Ponto e do Reino Bosforano. Provavelmente visando fortalecer seus vínculos com Roma, segundo o historiador romano Apiano (95-165 d.C.), Fárnaces teria oferecido Dínamis em casamento a Júlio César, que rejeitou a proposta. Em 47 a.C, Fárnaces II arranjou o casamento de Dínamis com um aristocrata local de alto nível chamado Asandro. Ele se casou com ela como sua segunda esposa, mas este foi o primeiro casamento Dínamis.
Busto de prata e bronze de c. de 30 d.C. representando
Dínamis, rainha do Bósforo Cimeriano
Em 47 a.C., Asandro revoltara-se contra Fárnaces II, que o nomeara regente do Reino Bosforano, durante a guerra de Fárnaces contra Cneu Domício Calvino, general romano e lugar-tenente de Caio Júlio César, ditador da República Romana. Asandro esperava desertando de Fárnaces II ganhar o favor dos romanos, os quais poderiam ajudá-lo a tornar-se o novo rei do Bósforo Cimeriano e da Cólquida. Fárnaces II foi derrotado pelos romanos e fugiu para o Bósforo. Asandro combateu Fárnaces II e seus partidários até a morte. Assim, Asandro e Dínamis se tornaram os monarcas governantes do Reino Bosforano. Destacam-se as atuações propagandísticas de Dínamis que fez todos os esforços para mostrar o seu desprezo para com os romanos. Em sua busca para manter as tradições iranianas (os reis do Ponto, dos quais Dínamis descendia, eram de origem persa) que estabeleciam certa providência divina aos reis, juntamente com o costume grego de render culto aos heróis, criou uma imagem de sua família afirmando que eles eram apoiados pela Deusa Suprema, que com seu marido divino protegia todo o Universo e, consequentemente, seus súditos mais fiéis, devotos e intrépidos.
3584 Panticapaeum Bosporus Cimmerius AE
Moeda de Panticapeu, capital do Bósforo,
de  63 a 10 a.C. com a efígie do deus Apolo
E assim permaneceram até que Júlio César enviou um pretenso tio paterno de Dínamis, Mitrídates II de Pérgamo, para guerrear contra o Reino Bosforano e reivindicar a realeza para si mesmo. Mitrídates II  havia ajudado César em sua luta no Egito e César agora o compensava com um reino cliente. Asandro e Dínamis foram derrotados por Mitrídates II e foram para o exílio político. Durante seu tempo no exílio, Dínamis e Asandro foram abrigados pela tribo sármata de sua mãe. Após a morte de Júlio César em 44 a.C, o Reino Bosforano foi restaurado para Asandro e Dínamis pelo sobrinho e herdeiro de Júlio César, Otávio (futuro imperador romano Augusto). Dínamis deu a Asandro um filho chamado Aspurgo. Possivelmente Asandro e Dínamis tiveram outros filhos, mas Aspurgo é o único conhecido e relevante historicamente. Por causa de sua restauração por Augusto mudaram-se as disposições antirromanas de Dínamis que inclusive passou a se intitular philoromaios (amiga dos romanos).
Moeda com a efígie de Asandro
De 44 até sua morte em 17 a.C, Asandro e Dínamis governaram como monarcas sobre o Reino Bosforano. Em 17 a.C., um usurpador obscuro chamado Escribônio, pretendendo-se um parente da legítima governante Dínamis, liderou uma rebelião contra Asandro. Esse, quando viu suas tropas abandoná-lo para passar para o lado de Escribônio, entrou em tal desespero que morreu de inanição voluntária. Com Asandro morto, Escribônio casou-se com Dínamis para legitimar-se no poder. Ou Escribônio ganhou Dínamis pela força ou pela persuasão (para evitar mais guerra) para tornar-se sua consorte. Quando o imperador romano Augusto ouviu falar sobre a rebelião que ocorreu no Reino Bosforano, ordenou que o general Marco Agripa Vipsânio interferisse na situação. Temendo uma intervenção drástica das legiões romanas, os bosforanos acabam por assinar a Escribônio. Devido aos conflitos dinásticos anteriores, Dínamis finalmente foi capaz de ganhar o controle de seu reino e sua família continua reinando sobre o reino. Por enquanto. Agripa não pode resolver a situação no Bósforo pessoalmente. Então enviou um rei cliente de Roma, Polemon I, rei do Ponto, o qual pretendeu incorporar o reino do Bósforo ao reino do Ponto como antes.
3752 Phanagoria Bosporus Cimmerius AE
Moeda datada de 63-10 a.C. proveniente de Fanagória, capital oriental do Bósforo Cimeriano
Dínamis, a fim de preservar a proteger o Reino Bosforano e proteger sua soberania e o futuro de seu filho, acabou se casando com Polemon I. Este foi o primeiro casamento de Polemon I que não tinha filhos anteriores e este foi o segundo casamento de Dínamis que tinha então 50 anos e um filho, Aspurgo. Não obstante, nada acontecia sem o placet de Roma. Agripa indicou Polemon para se tornar o novo rei do Bósforo e com isso rei do Ponto e da Cólquida. Como Dínamis e Polemon estavam casados, o que era um laço de aliança política, e os dois soberanos governavam um grande reino cliente do Império Romano, o imperador Augusto confirmou a ação de Agripa. Entretanto, Dínamis, que não se conformou de bom grado com o casamento, organizou um exército composto principalmente de sármatas para derrubar e matar seu marido. Fracassando em seu intento, Dínamis exilou-se na Cólquida. O casal real não teve filhos e cerca de 3 anos depois Dínamis faleceu (14 a.C.). Após a morte de Dínamis, Polemon I casou-se com Pitodorida do Ponto e através dela teve dois filhos e uma filha. Polemon I estendeu o Reino Bosforano até o rio Tanais. Ele morreu em 8 a.C., Aspurgo, filho de Dínamis com Asandro, o sucedeu.
Moeda do reinado de Dínamis
Dínamis foi uma rainha notável que tinha um espírito altivo e independente, mas com a astúcia e adaptabilidade à nova ordem trazida pelo Império Romano. Não obstante, não renegou suas origens e laços familiares muito menos sua realeza. As moedas de seu reinado trazem a inscrição em grego ΒΑΣΙΛΙΣΣΗΣ ΔΥΝΑΜΕΩΣ (basilisses dynameos, ou seja, “da rainha Dínamis”. Dínamis dedicou uma lápide a um homem sármata chamado Matian, filho de Zaidar. Na lápide se mostra um cavaleiro com um arco e uma aljava. Durante a terraplenagem em Kerch em fevereiro de 1957, uma inscrição em grego foi encontrada e relacionada à Dínamis. Nessa inscrição, Dínamis honra a sua ascendência real pôntica: "Ύπὲρ βασιλίσσης Δυνάμεως φιλορωμαίου, τῇς ὲκ βασιλέως μεγάλου Φαρνάκου, τοῦ ὲκ βασιλέως Μιθραδάτου Ευπάτρος ... Por [decisão] da Rainha Dínamis Philoromaios, [filha] do Rei Fárnaces, o Grande, [filho] do Rei Mitrídates Eupator...”)
Relevo romano representando um cavaleiro sármata:
Dínamis honrou os sármatas dos quais descendia por parte de mãe
De Roma, Dínamis obteve o reconhecimento como governante amiga e aliada. Durante seu reinado, ela ergueu três estátuas dedicadas a ela e uma outra estátua erguida em homenagem a esposa de Augusto, a primeira imperatriz romana Lívia Drusila. Em Fanagória, Dínamis dedicou uma inscrição homenageando Augusto como “O imperador, César, filho de deus, o deus Augusto, o superintendente de cada terra e mar”. Em uma de suas estátuas se acha a seguinte inscrição: “Dinamis, filha do grande Farnaces, neta do rei dos reis Mitrídates VI Eupátor, salvadora e patrona dos gregos pônticos, amiga dos romanos”. Em outra inscrição, Dínamis se chama uma imperatriz e amiga de Roma. Esta inscrição revela suas ambições políticas que ajudaram a manter seu reino e seu trono. No templo da antiga deusa grega Afrodite, Dínamis dedicou uma estátua de Lívia. Uma inscrição na estátua de Lívia, ela échamada de imperatriz e benfeitora de Dínamis. As inscrições sobreviventes revelam que Dínamis teve o apoio de Lívia e Augusto e, provavelmente, ela tinha amizade com o casal imperial.
O Reino do Bósforo e o Império Romano no fim do século I a.C.


FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Dynamis_(Bosporan_queen)
http://www.hourmo.eu/22_Crimea_&_Cimmerian_Bosporus/Index_Bosporus.html

ESCRIBÔNIO (17-16 a.C.)

Escribônio foi um rei do Bósforo e da Cólquida, os quais governou por curto período. As datas de seu brevíssimo governo são variadas (17-16, 16-15 e 15-14 a.C.). Seguimos aqui a cronologia da Lista de Reis do Bósforo Cimeriano da Wikipédia inglesa. Escribônio alegava ser neto de Mitrídates VI Eupátor, rei do Ponto que governara o Bósforo entre 107 e 63 a.C. Talvez alegasse ser filho de bastardo de Fárnaces II, filho de Mitrídates VI, que governara o Bósforo de 63 a 47 a.C. Porém, seu nome é de origem latina (Scribonius) e talvez Escribônio fosse de origem romana.
Bósforo
Cílica de prata representando o deus-sol Hélios (séc. IV a.C.) proveniente de Panticapeu
A essa altura a interferência de Roma não era pequena na região. Desde a derrota do rei Mitrídates VI (63 a.C.) para os romanos, o Bósforo Cimeriano, a Cólquida e o Ponto estavam sob a tutela de Roma. Em 47, Fárnaces II tentou restaurar o reino de seu pai e entrou em confronto com o ditador romano Júlio César. Derrotado, Fárnaces foge para o Bósforo onde é derrotado e morto pela revolta de Asandro, seu genro e a quem deixara como regente. César envia a Mitrídates de Pérgamo como o novo rei e seu lugar-tenente na região e Asandro e sua mulher, Dínamis, são exilados. Em 43 a.C., César Otávio (Augusto), sucessor de Júlio César e principal dirigente de Roma, depõe Mitrídates e confirma a Asandro e Dínamis como os novos reis do Bósforo Cimeriano e Cólquida, os quais seguiram seu curso sob a tutela dos romanos.
237 Panticapaeum Bósforo Cimmerius AE
Moeda de Panticapeu, capital do Bósforo  datada de 15 a 1 a.C onde se vê a inscrição Kaisareon ("de César")
Em 17, quando Asandro tinha pouco mais de 90 anos, Escribônio, alegando ascendência real por ser neto de Mitrídates VI, inicia uma nova rebelião. Ao ver seus homens desertarem para o lado de Escribônio, Asandro recusa-se a comer e morre de fome. Morto o velho rei, além de reafirmar sua origem “mitridática”, o que não é suficiente, ele alega que recebeu a confirmação do reino pelo imperador romano Augusto e para reforçar mais sua posição ele se casou logo com a rainha Dínamis, a viúva de Asandro. Marco Vipsânio Agripa, que comanda neste momento em nome de Augusto as tropas romanas na Síria se recusa a reconhecê-lo e envia contra Escribônio a Polemon I do Ponto, um rei cliente de Roma. Nessa época o reino do Bósforo estava separado do reino do Ponto. Escribônio é assassinado por seus súditos, mesmo antes da intervenção de Polemon. Este último, por sua vez se casa também com Dínamis, última descendente de sua família, que era o símbolo da legitimidade real.

FONTES:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Scribonius
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Kings_of_Cimmerian_Bosporus
http://pl.wikipedia.org/wiki/Skryboniusz_(kr%C3%B3l_Bosporu)
http://www.fotosistambul.com/ermitage-en-el-marq-2/

ASANDRO (47-17 a.C.)

Asandro (110 - 17 a.C.) foi um aristocrata e um homem do alto escalão do Reino Bosforano, o qual governou de 47 a 17 a.C. juntamente com sua esposa, a rainha Dínamis. Devido a sua associação com Roma ele foi chamado de Άσανδρoς Φιλοκαισαρ Φιλορώμαίος (Asandros Philokaisar Philoromaios), isto é, Asandro, amigo de César e amigo dos romanos. Asandro era de origem grega e possivelmente de ascendência persa. Seu nome significa bravo, corajoso. Não se sabe muito sobre sua família e infância. Ele começou sua carreira política e militar, como um general (strategós) sob Fárnaces II, rei do Ponto e do Bósforo Cimeriano. Segundo alguns estudiosos, Asandro teve como sua primeira esposa uma mulher chamada Glykareia. Ela é conhecida a partir de uma inscrição em grego que diz: "Glykareia, esposa de Asandro".

Moeda com a efígie de Asandro e a representação de Niké (deusa da vitória)
e uma inscrição em grego que se traduz por Asandro, arconte do Bósforo.
Por volta de 47 a.C., Asandro havia se casado como sua segunda esposa, Dínamis, que era filha de Fárnaces II. Ela era neta do rei Mitrídates VI do Ponto. Em 47 ainda, Asandro revoltou-se contra Fárnaces II, que o tinha nomeado como regente do Reino Bosforano durante a guerra de Fárnaces contra os romanos. Ao que parece, Asandro esperava com sua deserção ganhar o favor de Roma e que poderia ajudá-lo a tornar-se o novo rei bosforano. Atitude idêntica Fárnaces havia tomado com seu pai, Mitrídates VI: vendo que seu pai, embora combalido, insistia em sua guerra fadada ao fracasso contra Roma, ele se rebelou contra o pai passando para o lado dos romanos. O mesmo acontecia com ele agora, só que era o genro que o traía. Fárnaces II foi derrotado na batalha de Zela por Júlio César que, após a guerra civil romana, se emergia como o novo chefe de Roma e seus domínios. Fárnaces fugiu e refugiou-se dos romanos no Bósforo com o remanescente de seus partidários. Asandro combate o rei e seus homens, os quais são derrotados e mortos.
O reino do Bósforo quando da batalha de Zela
Asandro se tornou rei do Bósforo e foi capaz de manter o trono com sua esposa Dínamis como rainha. Parecia que agora o Bósforo iria voltar a ser independente do Ponto. Mas, o mundo estava ficando cada vez mais romano e a era de autossuficiência e livre prosperidade que o reino gozara sob as dinastias dos Arqueanáctidas e Espartócidas não retornaria. Júlio César, valendo-se de sua vitória sobre Fárnaces e seus domínios, enviou um (suposto) tio paterno da Dínamis, Mitrídates II de Pérgamo, para guerrear contra o Reino Bosforano e ser um rei cliente de Roma. Asandro e Dínamis foram derrotados por Mitrídates II e foram para o exílio político. No entanto, após a morte de Júlio César em 44 a.C, o Reino Bosforano foi restaurado para Asandro e Dínamis pelo sobrinho e herdeiro de César, Otávio (o futuro imperador romano Augusto). Nessa época (43 a.C.), Asandro adicionou a seu nome os epítetos de Philokaisar e Philoromaios. Até esse momento Asandro usou o título de arconte (alto magistrado). Porém, após a conformação de Augusto, ele já uso o título de basileus, rei. Dínamis deu a Asandro um filho chamado Aspurgo, que será herdeiro do trono, mas possivelmente Asandro e Dínamis tiveram outros filhos.
Moeda com a efígie de Asandro com um diadema real, a representação da
deusa Vitória (Niké) e a inscrição  basileus Asandrou: "do rei Asandro"
Segundo o geógrafo grego Estrabão, Asandro durante o seu reinado como o rei tinha construído um grande muro de 360 estádios de comprimento através do istmo da Crimeia (o atual Istmo de Perekop). O objetivo do muro construído era proteger a península contra ataques das tribos nômades. De 44 a.C. até sua morte em 17 a.C., Asandro governou como um rei forte do Bósforo Cimeriano, embora às vezes, no seu reinado, ele tivesse experimentado tempos muito inquietos. Em 17 a.C., Asandro morreu de fome voluntária por desespero com a idade de 93 anos, quando ele testemunhou suas tropas a abandoná-lo em favor do usurpador Escribônio, o qual, pretendeu ser um parente da rainha Dínamis para que pudesse se apropriar do trono. Dínamis foi obrigada a se casar com Escribônio. O estadista romano Marcos Vipsânio Agripa interveio na situação e Polemon I, rei do Ponto foi nomeado como o novo rei bosforano. Dínamis e Polemon se casaram em 16 a.C. Dínamis morreu em 14 a.C. Polemon governou até sua morte, em 8 a.C. e foi sucedido por Aspurgo, o filho de Asandro.


FONTES:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Asandros_du_Bosphore
http://en.wikipedia.org/wiki/Asander_(Bosporan_king)
http://www.cngcoins.com/Article.aspx?ArticleID=85
http://www.wildwinds.com/coins/greece/bosporos/kings/asander/i.html

segunda-feira, 18 de junho de 2012

MITRÍDATES DE PÉRGAMO (47-44 a.C.)

Mitrídates de Pérgamo foi um pretenso rei do Bósforo e da Cólquida entre 47 e 44 a.C. Ele é conhecido também como Mitrídates II do Bósforo em alusão ao primeiro soberano chamado Mitrídates a governar o Bósforo Cimeriano, Mitrídates VI do Ponto, e também de Mitrídates I do Bósforo em alusão a Mitrídates II do Bósforo, que reinará posteriormente. Mitrídates de Pérgamo era filho de Menódoto, um cidadão rico de Pérgamo, com Abodogiona da Galácia, filha de Dejótaro, tetrarca da tribo gálata dos trocmos, e irmã de Brogítaro, que foi tetrarca do mesmo povo. Em certa ocasião, a princesa gálata foi resgatada de envenenamento em um banquete e tornou-se amante do rei Mitrídates VI do Ponto, com o qual teve dois filhos: Mitrídates e uma filha também chamada Abodogiona. Presume-se então que embora o pai legal de Mitrídates fosse Menódoto seu pai biológico seja o rei do Ponto, o qual o levou a sua corte e, em seguida, para seu acampamento durante suas guerras contra Roma. Com o tempo, assim como os outros filhos de Mitrídates VI, Mitrídates de Pérgamo passou para o lado romano. Em 64 a.C. ele recebeu a soberania sobre sua cidade natal, Pérgamo.
2334 Panticapaeum Bosporus Cimmerius AE
Moeda bosforana do reinado de Fárnaces II
Em 48, ele ganhou o favor de Júlio César, levantando soldados na Síria e na Cilícia para fortalecer o exército do ditador romano no momento da guerra de Alexandria, no Egito. Mitrídates capturou a cidade egípcia de Pelúsio, mas foi preso ao tentar atravessar o Nilo. Apoiado por um contingente de judeus liderados por Antípatro, pai do futuro rei judeu Herodes, o Grande, ele participou da vitória final de César sobre o exército do rei egípcio Ptolomeu XIII. Em 63, Fárnaces, filho de Mitrídates VI e portanto meio-irmão de Mitrídates de Pérgamo, fora confirmado por Roma como rei do Bósforo Cimeriano e do Ponto em troca de sua colaboração na derrota de seu pai. Porém, ele começo a expandir seus domínios e a agir independente das orientações romanas, o que não tardou em gerar conflito entre os dois povos. Sendo assim, em 47 a.C., César, acompanhado de Mitrídates, deixou o Egito e viajou pela Síria, Cilícia e Capadócia para combater Fárnaces que supostamente havia cometido várias atrocidades contra cidadãos romanos.
A campanha de César da qual Mitridates participou em Alexandria e Zela.
Após a vitória romana, Mitrídates foi nomeado por César rei do Bósforo. Fárnaces, que fugira para o Bósforo, foi morto em batalha por seu antigo general Asandro, o qual casou-se com a filha de Fárnaces, Dínamis. O casal assumiu o governo do Bósforo. Porém, Mitrídates cruza o mar Negro e luta para ter o domínio do reino que lhe foi confiado. Porém, em 44 a.C., Júlio César é assassinado e seu sucessor, César Otávio, confirma o reino para Asandro e Dínamis. Mitrídates abdicou de suas pretensões e pouco depois faleceu. Mitrídates de Pérgamo teve uma breve aparição no filme Cleópatra (1963) onde foi interpretado pelo ator italiano Furio Meniconi.

FONTES:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Mithridate_de_Pergame
http://en.wikipedia.org/wiki/Mithridates_I_of_the_Bosporus
http://www.hourmo.eu/22_Crimea_&_Cimmerian_Bosporus/Pantikapaion/2334_Pantikapaion_AE.html
http://osreisdoponto.blogspot.com.br/2009/02/farnaces-ii-63-47-ac.html

domingo, 17 de junho de 2012

FÁRNACES II (63-47 a.C.)

Farnaces II do Ponto (97 a.C.- 47 a.C.) era filho bastardo de Mitrídates VI Eupátor Dionísio, a quem sucedeu no governo do Reino do Ponto e do Bósforo Cimeriano. Ele foi elevado como sucessor de seu pai e tratado com distinção. Contudo, sabe-se pouco da sua juventude. Graças às campanhas que levou a cabo junto com seu pai contra a República Romana conseguiu grandes conhecimentos sobre as legiões, pois o romano rebelde Quinto Sertório, da Hispânia, aliado de seu pai, enviou um grupo de centuriões para treinar as tropas do Ponto como as legiões romanas. Quando Mitrídates VI foi vencido por Pompeu, Fárnaces regia um reino próximo do reino do Bósforo, onde Mitrídates, após eliminar Macares, seu filho traidor que ali governava, ainda reinava. Mitrídates desejava à guerra com os romanos mais uma vez, mas Fárnaces procurou ser mais pragmático, pois o reino do Ponto já estava nas mãos dos romanos e o exército romano se aproximava sob o comando do competente general Cneu Pompeu.
Great Mitridat Staircase
O palácio de Mitrídates VI em Kerch, Ucrânia, onde ficava
a antiga Panticapeu, capital do reino do Bósforo
Assim, Fárnaces começou uma conspiração para retirar o seu pai do poder, mas os seus planos foram descobertos; todavia o exército, não desejando lutar contra Pompeu e suas legiões, apoiou Fárnaces. Eles marcharam contra Mitrídates e forçaram o seu antigo rei a tirar sua própria vida. Fárnaces rapidamente enviou uma embaixada a Pompeu com ofertas de submissão e reféns, já que ele desejava assegurar a sua posição. Ele também enviou o corpo do seu pai deixando-o à disposição de Pompeu, o qual permitiu o sepultamento do Grande Rei no mausoléu real de Sinope. Pompeu prontamente aceitou a “amizade” de Fárnaces, já que ele desejava estar de volta a Roma o mais rápido possível, mas assegurando-se de que tinha feito a paz na região. Pompeu concedeu a Fárnaces o Reino do Bósforo e reconheceu-o como amigo e aliado de Roma. O Reino do Ponto foi anexado progressivamente por Roma. A metade ocidental foi anexada primeiro à província da Bitínia, formando a dupla província do Ponto e Bitínia. A metade oriental foi entregue ao rei gálata Dejotaro. No entanto, Fárnaces seguiu seu singelo reinado examinando as lutas de poder crescentes entre os romanos: Pompeu disputava com seus aliados o poder em Roma e seus territórios com Júlio César e seus aliados. Fárnaces visava a oportunidade de recriar o reino de seu pai.
Moeda de Panticapeu com a efígie de
Fárnaces II e representação do deus Apolo
Ele atacou e subjugou sem motivos a cidade de Fanagória no Bósforo (que nas guerras de seu pai era aliada dos romanos), violando um dos seus acordos com Pompeu. Em 49 a.C., Fárnaces aproveita a guerra civil entre os romanos e decide agarrar a oportunidade de se fazer soberano da Cólquida e da Armênia Menor na Galácia. Dejotaro, o rei da Galácia, apelou para Domício Calvino, o tenente de Júlio César na Ásia, para ajudá-lo, e logo as forças romanas enfrentam Fárnaces. Eles encontraram-se em Nicópolis na Anatólia; Fárnaces enfrenta rapidamente as forças romanas provinciais, obtendo a vitória. Confiado nisto, invade o resto dos territórios do antigo reino de seu pai e parte da Capadócia. Depois desta demonstração de força contra os romanos, Fárnaces recuou para suprimir revoltas nas suas novas conquistas. Após a derrota das forças egípcias antirromanas na Batalha do Nilo (47 a.C.), César deixou o Egito e viajou pela Síria, Cilícia e Capadócia para combater Fárnaces que supostamente havia cometido várias atrocidades contra cidadãos romanos.
File:Stele griffin Phanagoria 3-4 c BC.jpg
Estela de Fanagória retratando um grifo (séculos IV-III a.C.)
Ele reuniu as suas tropas entre as guarnições das províncias asiáticas que Roma detinha. No início, reconhecendo a ameaça, Fárnaces fez ofertas de submissão com o único objetivo de ganhar tempo até que a atenção de César caísse em outro lugar; mas a velocidade de César trouxe a guerra rapidamente. César reuniu homens da VI Legião, XXII Legião, Legião Pontines, XXXVI Legião formando cerca de 1.000 homens e um pequeno contingente de cavalaria. Fárnaces possuía cerca de 20 000 guerreiros e a batalha realizou-se perto de Zela (atual Zile na Turquia), onde Fárnaces foi derrotado e só conseguiu escapar por causa de um descuido da cavalaria romana. A campanha de Júlio César de cinco dias contra Fárnaces foi tão rápida e completa que ele a comemorou com a agora famosa frase latina escrita a Amâncio em Roma: Veni, vidi, vici ("Vim, vi, venci"). César nomeou como o novo rei dp Bósforo e da Cólquida a Mitrídates de Pérgamo que auxiliara a César em sua luta no Egito.
O reino de Fárnaces, Zela e a rota de César
Fárnaces fugiu rapidamente para o Bósforo, onde ele conseguiu reunir uma pequena força de citas e sármatas, com a qual ele foi capaz de ganhar o controle de algumas cidades. Contudo, Asandro , genro de Fárnaces casado com sua filha Dínamis e um antigo governador do Bósforo, traiu-o e atacou as suas forças, as quais foram derrotadas e Fárnaces foi morto. O Ponto foi mais uma vez dividido entre a Bitínia e a Galácia. O historiador Apiano afirma que Fárnaces morreu em batalha; Dio Cássio diz que ele foi capturado e logo morto. Fárnaces tinha aproximadamente cinqüenta anos quando morreu, e tinha reinado durante quase dezesseis anos. Ele teve vários filhos, dos quais, Dario e Ársaces do Ponto, que foram feitos reis clientes de Roma durante um tempo curto (39-37 a.C.) por Marco Antonio, triúnviro romano. A filha de Fárnaces, Dínamis, primeiro casou-se com o general Asandro que o traiu, e de quem ela teve um filho Tibério Júlio Aspurgo. O destino da casa real do Ponto ficou ligado ao Bósforo. Posteriromente, Dínamis casou-se com o Rei Polemon I do Ponto. Outra filha de Fárnaces, Fanizan, deu nome a uma cidade que hoje é a cidade de Fatsa na Turquia. A luta de Fárnaces foi a última tentativa de erguimento de um reino do Ponto forte e independente de Roma. O reino do Bósforo será governado por Asandro e Dínamis, mas terá que enfrentar as pretensões de Mitrídates de Pérgamo.

FONTES:
http://www.acsearch.info/record.html?id=90405
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Stele_griffin_Phanagoria_3-4_c_BC.jpg
http://cd-crimea-2011.virtual.crimea.ua/en/sightscrimea/details/607.html
http://osreisdoponto.blogspot.com.br/2009/02/farnaces-ii-63-47-ac.html

sexta-feira, 15 de junho de 2012

MITRÍDATES VI EUPÁTOR – Segundo Reinado (66-63 a.C.)

Ao finalizar a Primeira Guerra Mitridática (89-85 a.C.), o general romano Lúcio Cornélio Sila deixou Mitrídates no controle de seu reino, apesar de haver sido derrotado. O cônsul Lúcio Licínio Murena assumiu a província da Ásia e tinha a incumbência de executar as cláusulas do tratado de paz entre Roma e o Ponto; entretanto, acusou Mitrídates de estar rearmando seus exércitos e invadiu o Ponto em 83 iniciando a Segunda Guerra Mitridática. Quando foi derrotado por Mitrídates em 81 a.C., Murena desistiu de continuar as hostilidades contra o rei do Ponto seguindo a orientação de Sila. Era um período de grande desordem na República Romana onde várias guerras civis eclodiam em seus territórios. Mitrídates aproveitou então a oportunidade que surgiu para seu soerguimento e revanche contra Roma. Em 74 a.C., morre Nicomedes IV, rei da Bitínia, e lega seu reino à República Romana que faz da Bitínia uma província. Fortalecido por sua aliança com o rebelde Sertório da Hispânia, que desafiava a autoridade de Roma na Península Ibérica, e por sua cumplicidade com os piratas do Mediterrâneo, Mitrídates quebra seu trato com Sila e anexa a Bitínia ao seu reino: inicia-se a Terceira Guerra Mitridática contra Roma. O Senado incumbe a Lúcio Licínio Lúculo a missão de lutar contra Mitrídates, a quem já havia enfrentado na Primeira Guerra Mitridática. Lúculo estava na região sul da Cilícia e imediatamente foi confrontar o exército pôntico.
O Império de Mitrídates em seu apogeu (86 a.C.)
 M. Aurélio Cota por terra e Nudo por mar combatem Mitrídates e são derrotados refugiando-se em Calcedônia onde são sitiados pelos pônticos. Ao chegar ao seu destino em novembro de 73, Lúculo reúne diversas legiões que estiveram combatendo na Ásia Menor. Em vez de ir direto ao Ponto, que estava desguarnecido, Lúculo prefere ajudar seus colegas. Mitrídates com cerca de 300.000 homens tenta ocupar a estratégica cidade de Cízico na Mísia e coloca suas tropas ao pé da montanha de Adrastéia, ao lado oposto da cidade, enquanto seus navios bloqueiam o mar e as pontes que separavam a cidade da terra firme. No entanto, as poderosas muralhas e a abundância de provisões da cidade fazem fracassar seu intento. Lúculo bloqueia as vias de provisão de Mitrídates, que por fim acaba retirando suas forças. A lealdade da cidade de Cízico à Roma foi recompensada por uma expansão de seus territórios e com outros privilégios. Ele levantou uma frota entre as cidades gregas da Ásia, com a qual ele derrotou a frota do inimigo em Ilium e em Lemnos. Após isto, Lúculo volta-se para os combates em terra tendo em vista penetar no Ponto; mas tem o cuidado de não ter um confronto direto com Mitrídates devido à cavalaria superior deste. A esta altura, Macares, filho de Mitrídates que governa o Bósforo Cimeriano, já se aliou aos romanos, pois sente que, ante os insucessos de seu pai, eles serão os vencedores do conflito.
O avanço das vitoriosas legiões romanas
Depois de várias pequenas batalhas, Lúculo finalmente derrotou-o na Batalha de Cabira (onde Mitrídates tinha um palácio) em 72 a.C. onde desmoralizou o exército pôntico e os derrotou com poucas perdas romanas. Lúculo toma toda a Bitínia, com exceção de Nicomédia onde Mitrídates se refugia. Lúculo destrói em dois combates uma esquadra que o rei pôntico mandara para a Itália. No ultimo desses combates, M. Mário, enviado por Sertório para ajudar ao rei do Ponto, foi preso e morto em meio a suplícios como traidor da pátria. Assim foram destruídos os planos que Mitrídates havia se baseado na coincidência de suas operações com as de Sertório na Hispânia e de Espártaco na Itália. Desde então, contentou-se em defender seu reino. Teria sido aprisionado em Nicomédia, se não fosse a negligência de Vocônio Saxa, cuja esquadra bloqueava esse porto. Fugiu por mar, porém sofreu uma furiosa tempestade, e só pode escapar em um frágil esquife. Vendo seus estados invadidos pelos romanos, pede socorro dos reis da Pártia e da Armênia. Este último o respondeu, mas tardou em cumprir sua promessa. Enquanto isso Mitrídates tenta deter em vão o avanço romano: o general romano sitia as cidades de Amiso e Eupatória e avança até Termodonte. O rei fugitivo reúne no inverno um novo exército de 44.000 homens, entre os povos nômades da Ásia, e com ele passou o rio Lico.
Mitrídates VI Eupátor Dionísio
No principio da seguinte campanha, em um encontro de cavalaria, obteve ele fraca vantagem, mas dois combates dados na Capadócia em que foram vencedores os romanos, levaram consternação aos soldados de Mitrídates, que resolveu abandonar seu exército. Na sua fuga desesperada, os soldados se rebelam e seu general Dorilau acabou morto; Mitrídates se salvou devido à dedicação de um de seus criados, que lhe deu seu cavalo. Perseguido pelos romanos, só escapa, deixando atrás de si uma mula carregada de ouro que entretém os ávidos perseguidores. Mitrídates foi forçado a retirar-se para seu genro, Tigranes, o rei da Armênia, de onde pede as suas irmãs e esposas que se suicidem para não cair nas mãos de Roma. Sua irmã Monima não conseguindo se enforcar pede a um oficial que a mate. Lúculo e seus auxiliares Cota e Triário completam a conquista do Ponto: Eupatória e Heracléia são destruídas; Amiso, incendiada, apesar da hábil defesa do estratego Calínico; Sinope e Amasa são tomadas. Nessa época a Armênia tinha um grande império no Oriente. Lúculo enviou Ápio Cláudio a Antioquia para exigir que Tigranes entregasse seu sogro; se ele se recusasse, a Armênia enfrentaria a guerra com Roma. Tigranes recusou as exigências de Ápio Cláudio, afirmando que ele se prepararia para a guerra contra os romanos. O general romano prepara-se imediatamente para uma invasão da Armênia. Embora ele não tivesse nenhum mandato legal do Senado que autorizasse tal movimento, ele tentou justificar a sua invasão distinguindo como o seu inimigo a Tigranes e não os seus súditos. Ele marchou com as suas tropas através da Capadócia e o rio Eufrates e penetrou na província armênia de Tsopk, onde ficava Tigranakert, mais conhecida como Tigranocerta, a capital do Reino.
O Império de Tigranes, rei da Armênia e genro de Mitrídates
Tigranes, surpreendeu-se pela velocidade do avanço de Lúculo na Armênia e por ele ter tomado a iniciativa do ataque. Despreparado, ordena atrasadamente ao general armênio Mitrobarzanes, com cerca de 2.000 para 3.000 homens, diminuir o avanço de Lúculo, mas as suas forças foram derrotadas pela cavalaria 1.600 homens conduzida por um dos legados de Lúculo, Sextílio. Tendo em vista a derrota de Mitrobarzanes, Tigranes confiou a defesa da cidade a Mancaeus e partiu para recrutar homens nas Montanhas Tauros. Enquanto isso, Lúculo investe pondo cerco à Tigranocerta. Após ter destruído as catrafactas armênias (cavalaria armada), o exército de Tigranes, composto principalmente de camponeses vindos de vários lugares do império, se debanda. Os guardas não armênios da cidade traem Tigranes abrindo as portas da cidade aos romanos. O rei envia 6.000 ginetes para resgatar tesouros e mulheres. No ano seguinte (68), as forças combinadas do Ponto e da Armênia voltam a enfrentar os romanos em Artaxata. Devido às severas baixas que sofreram os romanos e às duras condições a que estavam submetidos os legionários durante essas campanhas, Lúculo teve que enfrentar o descontentamento das tropas e três motins em 68 e 67 a.C. Frustrado pela indisciplina de suas tropas e a dificuldade do terreno do norte de Armênia, se retirou ao sul e saqueou Nisibis, defendida pelo irmão de Tigranes. As ações de Lúculo não traziam resultados definitivos à guerra e Mitrídates VI Eupátor, o grande inimigo de Roma, continuava livre. Ele retornara ao Ponto com 8.000 homens. Embora com cerca de 70 anos de idade, o rei do Ponto recobra seu vigor e coragem contra seus inimigos e tenta retomar seu reino.
Lúcio Licínio Lúculo
Sendo tal a situação, o Senado resolveu substituir Lúculo, o qual já estava a vinte anos resolvendo problemas na Ásia. Indicado pelo senador Manílio e apoiado por Júlio César e Marco Túlio Cícero, o substituto é Cneu Pompeu que já era o grande general de Roma na ocasião tendo resolvido muitas querelas militares no Ocidente e eliminado os piratas do Mediterrâneo. Pompeu traz suas próprias legiões de veteranos e penetra na Armênia derrotando a débil resistência que o enfrentou. Após ter seus exércitos remanescentes derrotados no Eufrates e em Nicópolis, Mitrídates foge para Dioscurias na Cólquida, onde invernou (66-65 a. C.). Pompeu submete os albanos do Cáucaso e o reino da Ibéria caucasiana (Kartli) e penetra na Cólquida. Mitrídates escapou mais uma vez e parte para o Bósforo. Macares ficou alarmado com a rapidez do avanço de Mitrídates e com as consequências de sua traição. Ele enviou mensageiros a seu pai alegando que agiu por necessidade. Conhecendo, todavia, o caráter implacável de Mitrídates, Macares fugiu, antes de obter qualquer resposta, de Panticapeu para a cidade de Quersoneso. Na fuga, Macares incendiou os navios do porto para tentar impedir seu pai de segui-lo. Quando chegou em Panticapeu, Mitrídates construiu novos barcos e os enviou a Quersoneso. Sem esperanças de ser perdoado, Macares cometeu suicídio. Dio Cássio, historiador romano, ao contrário, relata que Mitrídates o enganou com promessas de segurança, e depois mandou matá-lo pelas mãos de seus próximos prometendo-lhes que não seriam punidos. De quer forma, Mitrídates volta agora a ser rei do Bósforo Cimeriano, embora tenha perdido seu reino na Ásia Menor e na Cólquida. Será um reinado curto e agonizante.
Cneu Pompeu
Pompeu organizou as conquistas, privou ao reino do Ponto das cidades de tipo grego, a exceção de algumas vilas da costa, e as subdividiu em 11 distritos. A partir de 64 a. C., Mitrídates reorganizou seu exército no Bósforo. Seu plano era como o de Aníbal, o general cartaginês inimigo de Roma: lançar os bárbaros contra os romanos. Já havia feito pactos com algumas tribos germanas e sármatas do Danúbio para uma grande ofensiva contra a Itália. Pretendia dar guerra aos romanos em suas terras: planejava atravessar a Trácia, a Macedônia e a Panônia e invadir à Itália pelo norte. No entanto, em 63 a. C., seu filho Fárnaces se sublevou começando uma conspiração para retirar o seu pai do poder. Entretanto, os seus planos foram descobertos, mas o exército bosforano, não desejando enfrentar Pompeu e os exércitos romanos, apoiou Fárnaces. Eles marcharam contra Mitrídates e forçaram o seu antigo rei a tirar a própria vida. Deve ser lembrada Hypsicratea, a qual era a concubina ou a sexta e mais famosa esposa do rei Mitrídates. Ela amou tanto seu marido que ela vestia um disfarce masculino, adquiriu habilidades de guerreiro e o seguiu no exílio.
Base de uma estátua dedicada a Hypsicratea encontrada em Fanagória
Quando ele foi derrotado e posto em fuga, onde quer que ele buscasse o refúgio, até na solidão mais remota, ela considerou que onde quer que seu marido estivesse, lá ela encontraria a sua monarquia, as suas riquezas, e o seu país, o que foi conforto e consolo a Mitrídates em muitos infortúnios seus. Se dizia que ela o assistia em todos os trabalhos, inclusive os da guerra. Ela montou com ele na batalha, suprimiu rebeliões e lutou contra Roma. Dela se diz ter lutado com machado, lança, espada, arco e flecha. Durante a derrota do rei Mitrídates por Pompeu, Hypsicratea libertou-se do bloqueio de Pompeu e enquanto o resto dos “súditos” se dispersava ela foi uma dos três que permaneceu ao lado do Rei até seus momentos finais. Conforme a lenda, após ser derrotado por Pompeu, Mitrídates tentou o suicídio por envenenamento, sem efeito devido a sua imunidade. Desde de muito jovem o rei pôntico bebia pequenas doses de veneno para adquirir imunidade caso houve uma tentativa de envenenamento contra ele. Teria, então, forçado um de seus guardas a matá-lo à espada no seu palácio em Panticapeu. Pelo comando de Pompeu, o corpo de Mitrídates foi depois transladado de Panticapeu e enterrado ao lado dos seus antepassados em Sinope. Agora o reino do Bósforo seria governado pelo filho de Mitrídates, Fárnaces II.
A morte de Mitrídates VI
Chegava ao fim um dos maiores inimigos de Roma. Mitrídates ganhou destaque na literatura romana antiga que de um modo geral o via como um grande inimigo, cruel e sanguinário, mas que reconhecia suas qualidades bélicas. Mitrídates arrogava-se herdeiro de Alexandre, o Grande, e defensor da civilização grega contra os “bárbaros” romanos. É lhe atribuída uma prodigiosa memória lhe permitia falar vinte e cinco línguas, de modo que podia comunicar-se com cada soldado de seus grandes exércitos no seu próprio idioma. Devido a esta lenda, certos livros que contêm excertos de muitas línguas chamam-se “Mitrídates”. Sua vida inspirou a arte: o poema Terence, This Is Stupid Stuff de A. E. Housman e o romance O Conde de Monte Cristo de Alexandre Dumas fazem alusão à Mitrídates. O dramaturgo francês Jean Racine dedicou-lhe uma peça, Mithridates (1673), e Mozart compôs uma ópera tendo o célebre rei do Ponto como tema: Mitridate, re di Ponto (1770). Mitrídates é o grande personagem em The Golden Slave (1960) de Poul Anderson e o protagonista de The Last King: Rome's Greatest Enemy (2005) de Michael Curtis Ford.
Palácio de Mitrídates em Panticapeu
FONTE:

terça-feira, 12 de junho de 2012

MACARES (70 – 66 a.C.)

Moeda do reinado de Macares
Macares foi um príncipe do reino do Ponto, filho do rei Mitrídates VI e Laodice, que chegou a ser rei do Bósforo Cimeriano de 70 a 66 a.C. Seu nome vem do grego Machares (Μαχάρης), mas é de origem persa e significa guerreiro. Desde o ano 82 a.C. Macares administra o Bósforo e a Cólquida como regente de seu pai. Durante a terceira guerra de Mitrídates contra Roma (73-63 a.C.), o rei pôntico foi derrotado na batalha de Cízico, cidade da Ásia Menor, ocorrida em 73 a.C. Após sua derrota para os romanos, Mitrídates requer de Macares reforços e auxílio, que nesse tempo eram prontamente fornecidos. Mitrídates fez de Macares rei do Bósforo em 70 a.C. visando que esse controlasse as tribos bárbaras entre a Cólquida e o Lago Meótida.
File:PonticKingdom.png
Mapa do Reino do Ponto: antes do reinado de Mitrídates VI (roxo escuro), depois de suas conquistas (roxo), e suas conquistas nas primeiras Guerras Mitridáticas (rosa). O Reino do Bósforo faz parte das primeiras conquistas do célebre rei pôntico.
Porém, depois dos fracassos contínuos de Mitrídates, ficou claro para Macares que a vitória final seria de Roma e os que estivessem com Mitrídates cairiam com ele. Assim, ele enviou uma embaixada ao general romano Lúcio Licínio Lúculo com uma coroa de ouro no valor de mil áureos como um presente, e pediu para se tornar um aliado de Roma. Esta aliança foi prontamente firmada por Lúculo, e como prova de sua sinceridade, Macares assistiu o general romano com suprimentos e assistência no cerco de Sinope. Não havia maneira mais clara de Macares dizer que renunciava a guerra de seu pai ajudando os inimigos dele a tomar a capital do reino do Ponto! Macares agora governava o Bósforo independente do Ponto. Não obstante, no Oriente, seu pai, apesar de contínuas derrotas, ainda lutava com os romanos. Mas, em 65 a.C., quando Mitrídates foi derrotado pelo novo comandante das forças romanas, Cneu Pompeu, adotou a resolução ousada de marchar com seu exército para o Bósforo, de onde pretende refazer-se e voltar a guerra.
O exército romano celebrando uma vitória
Macares ficou alarmado com a rapidez do avanço de Mitrídates e com as consequências de sua traição. Ele enviou mensageiros a seu pai alegando que agiu por necessidade. Conhecendo, todavia, o caráter implacável de Mitrídates, Macares foge, antes de obter qualquer resposta, de Panticapeu para a cidade de Quersoneso. Na fuga, Macares incendiou os navios para tentar impedir seu pai de segui-lo. Quando chegou em Panticapeu, Mitrídates construiu novos barcos e os enviou a Quersoneso. Sem esperanças de ser perdoado, Macares cometeu suicídio. Dio Cássio, historiador romano, ao contrário, relata que Mitrídates o enganou com promessas de segurança, e depois mandou matá-lo pelas mãos de seus próximos prometendo-lhes que não seriam punidos. De qualquer forma, Mitrídates volta agora a ser rei do Bósforo Cimeriano, embora tenha perdido seu reino na Ásia Menor.

FONTES:
http://en.wikipedia.org/wiki/Machares
http://www.livius.org/ap-ark/appian/appian_mithridatic_21.html#%A7102
http://www.museum.com.ua/en/istor/sev-vost/bospor/bospor.htm

domingo, 10 de junho de 2012

MITRÍDATES VI EUPÁTOR - Primeiro Reinado (107 – 70 a.C.)

Mitrídates, o Grande
Mitrídates VI Eupátor Dionísio, também conhecido como Mitrídates, o Grande, era rei do Ponto e se tornou rei do Bósforo Cimeriano governando-o primeiramente de 107 a 70 e depois de 66 a 63 a.C. Como governante do Bósforo, Mitrídates também é chamado de Mitrídates I por ter sido o primeiro soberano desse reino chamado por esse nome. Com ele inicia-se uma nova dinastia (os mitridátidas) e um novo período (o pôntico) no qual a região do antigo reino do Bósforo Cimeriano ficou submetida ao reino do Ponto. O Reino do Ponto foi um antigo Estado helenístico, localizado a norte da península do Mar Negro, entre os rios Fasis e Halis. Nos dias do Rei Mitrídates VI Eupátor os pônticos chamavam seu reino de Capadócia do Ponto ou Capadócia do Euxino em contraste com ao reino da Capadócia no interior da Anatólia.
Mitrídates VI Eupátor Dionísio
Mitrídates VI foi o mais célebre e um dos mais formidáveis e bem sucedidos inimigos de Roma, havendo enfrentado três dos melhores generais romanos dos fins da República: Sila, Lúculo e Pompeu. Levou o Reino do Ponto ao seu apogeu e com ele sucumbiu. Mitrídates VI era filho de Mitrídates V do Ponto com Laodice VI, filha do rei grego da Síria, Antíoco IV Epífanes. Nasceu em 132 a.C. em Sinope (atual Sinop na Turquia). Quando da morte de seu pai (provavelmente assassinado por instigação da mãe), tinha cerca de doze anos e, embora associado ao trono, a regência do Ponto ficou nas mãos de sua mãe, a qual parecia ser mais favorável ao seu irmão mais novo, Mitrídates Cresto. Temendo por sua vida, Mitrídates exilou-se na região montanhosa do Ponto; dedica-se à caça e aos estudos. Durante sua menoridade, os romanos, que intervem constantemente na Grécia e no Oriente Próximo, retiraram do Ponto o domínio da Frígia Maior; foi o princípio da inimizade crescente de Mitrídates contra Roma.
File:Reino del Bósforo.jpg
O reino do Ponto e o Reino do Bósforo antes da conquista de Mitrídates (107 a.C.)
Em cerca de 115 a.C. retorna à Sinope onde logrou ascender ao trono lançando sua mãe na prisão; associou seu irmão Mitrídates Cresto ao governo assassinando-o depois. Casa-se com sua irmã, Laodice. Tinha cerca de 20 anos quando de sua ascensão e rodeou-se de conselheiros gregos. Diz-se que sua irmã-esposa também tentou envenená-lo; por fim, Mitrídates a mandou matar e teve muitas outras mulheres. Seguro no trono, Mitrídates continuou a política expansionista de seu pai e procurou fazer do Ponto um grande e poderoso Estado e para isso visava dominar o Mar Negro e a Anatólia (a Ásia Menor, atual Turquia). E isso se deu por sua intervenção no Quersonesno Táurico (atual Península da Crimeia) onde estava situado o Reino do Bósforo Cimeriano.

Quersoneso
O contexto de como o reino do Bósforo Cimeriano passou a fazer parte do reino do Ponto é está ligado a cidade de Quersoneso, antiga colônia grega que ficava ao oeste do reino bosforano. Quersoneso (também conhecida como Quersoneso Táurica) foi fundada no século V a.C. por colonos oriundos de Heracleia Pôntica, cidade grega da Ásia Menor. Inicialmente a cidade foi uma democracia governada por um grupo de arcontes eleitos e por um conselho denominado damiorgi. Com o tempo a forma de governo tornou-se progressivamente oligárquica. Quersoneso, em meio a um florescimento cultural e econômico, resistiu as tentativas de dominação do reino do Bósforo e dos citas e sármatas ao redor. Mas, ao fim do século II a.C., além de estar dependente do reino bosforano, a pressão dos povos bárbaros vizinhos (citas, sármatas, táurios, etc.) aumentou grandemente sobre a antiga cidade.
Localização de Quersoneso e reinos e povos adjacentes

As Guerras entre Quersoneso e os Citas
Já no século III a.C Quersoneso teve de lutar inúmeras vezes, tanto defensivamente quanto ofensivamente durante a expansão territorial dos povos vizinhos. A evidência das muitas ações militares contra Quersoneso é demonstrada no contínuo reparo e fortificação das muralhas defensivas da cidade ao longo dos anos, na presença de fortalezas e povoados fortificados no noroeste da Crimeia e na Península Heracleana, nas estruturas que apresentam traços de cercos e incêndios, na descoberta de moedas quersonesitas escondidas em momentos de perigo iminente. Há também o testemunho epigráfico.
Guerreiros e guerreira citas
Em suas lutas contra os citas, os quersonesitas tentaram usar os conflitos já existentes entre as diferentes tribos citas, ou incitar conflito entre os citas e outros povos da região. Apesar da resistência, a maioria dos assentamentos dependentes de Quersoneso sucumbiu às invasões. Esta situação pode, eventualmente, estar ligada às habilidades crescentes dos citas, ou o que é mais provável, a incursão dos sármatas na região dos rios Don e Dnipier. As evidências arqueológicas indicam que Quersoneso entrou no século II como um estado enfraquecido, e, consequentemente, estava sujeito ao poder de fortes choques políticos e econômicos.

Quersoneso e o Ponto
Após o surgimento do Estado cita com sua capital em Neápolis Cita no século III a.C, os citas aumentaram a pressão sobre Quersoneso. Povoados citas fortificados foram construídos perto da cidade. A carência da cidade de uma força militar capaz de suportar os citas resultou na sua busca de aliados. Em 179 a.C. Quersoneso concluiu um tratado com rei do Ponto, Fárnaces I, que prometeu sua assistência em quaisquer lutas contra os citas. Interessante que uma das condições do tratado é que Quersoneso permaneça em paz com os romanos.
Moeda com a efígie do rei pôntico Fárnaces I
Esciluro
Palaco
Esciluro funda um poderoso reino cita ao norte da Crimeia com capital em Neápolis Cita. Ele controla a tribo dos tauros e a cidade de Ólbia Pôntica, um antigo empório grego. Aliado com a tribo sármata dos roxolanos, ele pretende arrancar dos gregos pônticos o controle do comércio da região. Apoderou-se do porto de Kirkinitis e atacou Quersoneso e Panticapeu. Combate a pirataria e começa a negociar com a importante cidade de Rodes no Mar Egeu. Temerosa, Quersoneso solicita a ajuda de Mitrídates VI do Ponto para combater a ameaça cita. Após a morte de Esciluro (c. 113 a.C.), seu filho e sucessor, Palaco, continuou os ataques expansionistas do pai. Em 110 a.C. Mitrídates, interessado em dominar toda a costa do Mar Negro, enviou um exército liderado pelo general Diofanto de Sinope, militar e geógrafo de prestígio. O exército pôntico e o quersonesita se juntaram e, apesar de estarem em número inferior, derrotaram o exército de Palaco que levantou o cerco de Quersoneso.
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Guerreiros roxolanos
Após a vitória, Diofanto retornou ao Ponto, mas não antes de visitar o rei bosforano Perisades V em Panticapeu onde negociou um tratado muito favorável a Mitrídates, certamente a submissão do Bósforo Cimeriano ao reino do Ponto. Palaco, aliado com Tásio, rei dos roxolanos, volta a atacar e se apoderam da fortaleza de Eupatória, que pertencia a Mitrídates. Diofanto retorna (108 a.C.) em uma segunda expedição. Inicialmente, por causa da proximidade do inverno, ocupa inicialmente as cidades gregas da costa. Em novo combate com os citas derrota-os de vez e toma-lhes as fortalezas de Chabaioi e Neápolis Cita, queimando-as depois. A essa altura a cidade de Quersoneso, embora livre dos citas, já perdeu sua independência para o Ponto.

O Ponto e Reino do Bósforo Cimeriano
Diofanto, em sua campanha, marcha em direção a Panticapeu onde o rei do Bósforo, Perisades V, tornar-se vassalo de Mitrídates em troca de proteção para seu reino. Presume-se que isso tenha causando grande descontentamento no povo. Sendo assim, eclodiu uma revolta de escravos, liderada por Saumaco, que era escravo doméstico do soberano. Saumaco assassina Perisades e Diofanto teve que fugir para também não ser morto. Perisades V foi último rei da dinastia dos Espartócidas que governava a região há cerca de 430 anos. Saumaco tornou-se assim o senhor do reino, esse, porém, reduzido as cidades de Teodósia e Panticapeu. Mandou cunhar a inicial de seu nome na fronte da efígie do deus-sol Hélios que era usualmente retratado nas moedas bosforanas. Enfim, Diofanto retornou, à frente de um exército, tomou as cidades de Teodósia e Panticapeu. Saumaco foi capturado e enviado ao reino de Mitrídates. Não sabe sobre seu fim. Agora o novo soberano do Bósforo Cimeriano era o rei do Ponto, Mitrídates VI Eupátor. A guerra ainda não acabara. Mitrídates quer controlar toda a costa do Mar Negro. Sob o comando do almirante Neoptólemo, os pônticos conquistam as regiões da Táuride e da cidade de Ólbia. Essas conquistas colocaram grandes recursos nas mãos do rei do Ponto.
O reino do Ponto após a conquista de Quersoneso e do reino do Bósforo
Debaixo do domínio do Ponto, os bosforanos acabaram por se envolver nas Guerras Mitridáticas. Essas foram os três conflitos entre a República de Roma e o Reino do Ponto no século I a.C. (de 88 a 65 a.C.).  Mitrídates VI Eupátor, notável inimigo de Roma, havia invadido a Ásia Menor em 88 a.C. e ordenado a execução de 100 mil romanos que lá viviam, incluindo mulheres e crianças, levando assim ao início da guerra. Durante a Primeira Guerra Mitridática (88-84 a.C.), o Bósforo se rebelou contra o poder pôntico em 86 a.C. , mas após o término da guerra, Mitrídates de novo impôs sua vontade sobre a região. Durante estes anos o Bósforo foi governado por representantes de Mitrídates, até que na Segunda Guerra o Mitridática (83-81 a.C.), os bosforanos se revoltaram uma segunda vez. Em 70 a.C., depois de restaurar a sua autoridade, Mitrídates VI fez de Macares, seu filho mais velho, rei do Bósforo, o qual já governava como regente desde 82 a.C.

FONTES:
http://osreisdoponto.blogspot.com.br/2009/01/mitridates-vi-eupator-120-63-ac-parte-i.html
http://www.1911encyclopedia.org/Chersonese
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quersoneso
http://www.Quersoneso.org/?p=history_ant&l=eng#3
http://www.chersonesos.org/?p=museum_coll_ep9&l=eng
http://landofkarda.blogspot.com.br/2010/05/female-warriors.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Skilurus
http://www.ehw.gr/blacksea/Forms/fLemmaBodyExtended.aspx?lemmaid=10763&boithimata_State=&kefalaia_State=#chapter_3
La formación del Imperio Romano editado por Pierre Grimal em www.books.google.com.br
http://steppes.proboards.com/index.cgi?board=board21&action=display&thread=429

SAUMACO (108-107 a.C.)

Saumaco foi o chefe de uma rebelião de escravos citas e governante do Reino do Bósforo pelo breve período de seis meses entre 108 e 107 a.C. A única fonte que dispomos dessa revolta e sobre Saumaco é uma inscrição encontrada nas ruínas da cidade de Queroneso (nos subúrbios da moderna Sebastopol, Ucrânia). A inscrição é em honra de Diofanto, general de Mitrídates VI Eupátor, rei do Ponto. Cercada por citas e sármatas (os roxolanos), a cidade de Quersoneso pediu ajuda ao rei do Ponto em troca de sua independência.
Sítio arqueológico de Quersoneso em Sebastopol, Ucrânia
 Mitrídates envia seu general Diofanto que livra a cidade. Diofanto, em sua campanha, marcha em direção a Panticapeia onde o rei do Bósforo, Perisades V, tornar-se vassalo de Mitrídates em troca de proteção para seu reino. Presume-se que isso tenha causando grande descontentamento no povo. Sendo assim, eclodiu uma revolta de escravos, liderada por Saumaco, que era alumnus (escravo doméstico) do soberano. Saumaco assassina Perisades e Diofanto teve que fugir para também não ser morto. Perisades V foi último rei da dinastia dos Espartócidas que governava a região há cerca de 430 anos.
File:Scythian comb.jpg
Representação de guerreiros citas num pente de ouro
Saumaco tornou-se assim o senhor do reino, esse, porém, reduzido as cidades de Teodósia e Panticapeia. Mandou cunhar a inicial de seu nome na fronte da efígie do deus-sol Hélios que era usualmente retratado nas moedas bosforanas. Enfim, Diofanto retornou, à frente de um exército, tomou as cidades de Teodósia e Panticapéia. Saumaco foi capturado e enviado ao reino de Mitrídates. Não sabe sobre seu fim. Agora o novo soberano do Bósforo Cimeriano era o rei do Ponto, Mitrídates VI Eupátor.


FONTES:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Saumaco
La formación del Imperio Romano editado por Pierre Grimal em www.books.google.com.br
http://www.chersonesos.org/images/ct3.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Scythian_comb.jpg

PERISADES V (125 – 108 a.C.)

Perisades V foi um rei que governou o Bósforo Cimeriano de 125 a 108 a.C sendo também o último rei da dinastia dos Espartócidas. Cogita-se se entre Perisades IV e Perisades V teriam existido dois reis anteriores, Espártoco VI e Leucon III. Mas não há dados suficientes para corroborar esses reis hipotéticos. Sendo assim, após a morte de Perisades IV (125 a.C.) o trono do Bósforo foi ocupado por Perisades V, possivelmente filho do rei anterior.
Máscara funerária de um rei bosforano (século III a.C.)
Perisades V foi o último rei de sua linhagem. Durante seu governo, o reino do Bósforo está seriamente ameaçado pela pressão das tribos citas e sármatas ao redor. Os habitantes da cidade de Quersoneso, ameaçados continuamente pelos citas da península táurica (atual península da Crimeia na Ucrânia, da qual o Bósforo Cimeriano faz parte), solicitaram ajuda a Mitrídates VI Eupátor, rei do Ponto (reino helenístico ao sul do Mar Negro, na costa norte da atual Turquia). Ele enviou em auxílio uma expedição comandada por Difoanto, grande general e geógrafo prestigioso, que derrotou os citas e seus aliados sármatas, os roxolanos.
Colar do fim do século I a.C. proveniente da região
da cidade de Quersoneso

Diofanto, após vencer seus inimigos, fez um tratado com Perisades para que esse abdicasse do trono do Bósforo em favor de Mitrídates VI em troca de proteção. Porém, eclodiu uma revolta dos escravos citas do palácio real em Panticapeu. A revolta foi liderada por Saumaco, que fora escravo doméstico de Perisades. A revolta atingiu os escravos urbanos e rurais. Perisades foi assassinado por Saumaco antes de abdicar em favor de Mitrídates. Diofanto, que estava na cidade, escapou com dificuldade. Saumaco se tronou assim o novo senhor do Bósforo. Com a morte de Perisades V em 108 a.C. terminava 430 anos de governo da dinastia dos Espartócidas sobre o reino do Bósforo Cimeriano.
Representação dos deuses Apolo e Atena em um sarcófago
bosforano perto da antiga Panticapeu (século IV a.C.)

FONTES:
http://sitemaker.umich.edu/mladjov/files/bosporan_kings.pdf
http://fr.wikipedia.org/wiki/Pairisad%C3%A8s_V
http://es.wikipedia.org/wiki/Panticapea
http://www.hermitagemuseum.org/html_En/03/hm3_10-1_01_17.html

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PERISADES IV (170 – 125 a.C.)

Perisades IV Filométor foi um rei que governou o Bósforo de aproximadamente 170 a 150, junto com sua mãe, e sozinho de 150 a 125 a.C. Ele era filho do rei Perisades III e da rainha Kamasarye Filoteknos. Após a morte de seu pai em 170 a.C., Perisades IV reinou em conjunto com sua mãe, a rainha Kamasarye. Para selar a harmonia dos dois eles acrescentam a seus nomes os títulos de Filométor (aquele que ama a mãe) e Filotéknos (aquela que ama o filho). Isso é um costume comum na dinastia dos Lágidas, família greco-macedônia que governava o Egito na época.
2462 Paerisades IV Regnum Bosporanum Stater AV
Moeda do reinado de Perisades IV com as efígies do rei e da deusa Atena
Uma placa calcária dedicada a deusa Afrodite Urânia datada de 150-125 a.C. encontrada em Panticapeu (Kerch, Ucrânia) se menciona Perisades e sua mãe:


"Παιρισάδου. Καμασαρύης. ̉Αργότου. Ύπὲρ ἄρχοντος καὶ βασιλέως Παιρ [ι] σάδου τοῦ βασιλέως Παιρισάδου φιλομήτρος καὶ βασιλίσσης Καμασαρύης τῆς Σπαρτ [ό] κου θυγατρὸς φιλ [ο] τέκνου [καὶ] Αργότου τοῦ ̉Ι [σάν] θου βασ [ιλίσ] σης Καμασαρύης ἀνδρὸς "


No texto a dedicatória é de Perisades (IV), Kamasarye e seu segundo esposo, Argotos. Perisades Filométor é chamado de arconte e rei.  A partir de 150, Perisades IV reina sozinho vindo a falecer no ano 125 a.C. A maioria dos estudiosos entende que Perisades IV foi sucedido por Perisades V, mas há a hipótese de um certo Espártoco VI ter sucedido a Perisades IV.

FONTES:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Pairisad%C3%A8s_IV
http://www.hourmo.eu/22_Crimea_&_Cimmerian_Bosporus/Bosporus_Paerisades_IV/2462_Paerisades_IV_AE.html
http://www.hermitagemuseum.org/html_En/03/hm3_10-1_01_17.html

PERISADES III (180 – 170 a.C.) E KAMASARYE (180 – 150 a. C.)

Perisades III  foi o sucessor do rei bosforano Espártoco V reinando de 180 a 170 a.C. Parece que Perisades, no entanto, não governou sozinho e seu reinado foi associado a sua esposa Kamasarye (ou Kamasaria), que seguramente era filha do rei anterior. Kamasarye Filotéknos (do grego antigo: Καμασαρύη Φιλότεκνος, Kamasarýē Philóteknos) foi uma rainha que governou o Bósforo de cerca de 180 a 160/150 a.C. Seu nome é homônimo de sua ancestral, a rainha Kamasarye, filha de Gorgipo, a esposa do Rei Perisades I (349-311 a.C.). Ela era filha do rei Espártoco V e tornou-se rainha após a morte de seu pai casando-se com Perisades III, que talvez fosse seu irmão ou meio-irmão, imitando assim o costume egípcio revivido pelos reis greco-macedônios do Egito onde irmãos se casavam (mantendo assim o poder real na mesma dinastia). 
Colar de ouro do século V a.C. encontrado no sítio de
Ninfeu,  uma das principais cidades do reino bosforano
Mas talvez Perisades fosse outro filho de Leucon II, que governara o Bósforo antes do pai de Kamasarye em 240 -210 a.C. Certamente o arranjo matrimonial foi feito para se evitar alguma disputa pelo trono. De qualquer forma governaram juntos e tiveram um filho, Perisades. A rainha é muito ativa e seu nome é mencionado em muitas inscrições, notadamente em cerca de 178-177 a.C. quando da dedicação de um objeto de ouro ao templo de Apolo Didymaios, perto da cidade de Mileto na Jônia (Ásia Menor). É interessante notar que a cidade de Mileto foi a principal metrópole grega a colonizar o Bósforo Cimeriano no século VI a.C. Isso evidencia que os reis bosforanos, ainda no século II a.C., procuravam se relacionar com suas origens e tradições gregas.

Par de brincos de ouro do século IV a.C. encontrados
 no sítio da antiga Panticapeu em Kerch, Ucrânia
Após a morte de Perisades III em 170, ela reina em conjunto com seu filho Perisades IV. É quando a rainha e seu filho, respectivamente, acrescentam aos seus nomes os epítetos de Filoteknos ( isto é, "a que ama seu filho") e Filométor (isto é, "o que ama a sua mãe"), seguindo assim a utilização do costume da corte do rei egípcio contemporâneo, Ptolomeu VI Filométor, com o qual mantém relações diplomáticas e comerciais. Aliás, no reinado de Perisades III e Kamasarye o reino do Bósforo Cimeriano dividiu com o Egito o monopólio do fornecimento de trigo para o mundo helenístico. Por volta de 160 a.C., a rainha contraiu um segundo casamento com um certo Argotos, possivelmente um príncipe cita, o qual é mencionado com o seu filho em uma inscrição. Seu governo conjunto terminou em 150, quando seu filho assumiu sozinho as rédeas do governo. Não se sabe o ano da morte de Kamasarye.

FONTES:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Pairisad%C3%A8s_III
http://fr.wikipedia.org/wiki/Kamasarye_Philoteknos
http://www.hermitagemuseum.org/html_En/03/hm3_10-1_01_01.html

ESPÁRTOCO V (200 – 180 a.C.)

Espártoco V foi um rei que governou o Bósforo Cimeriano em cerca de 200 a 180 a.C. Em cerca de 200, após o término do governo de Hygiainon (210-200 a.C.), talvez um usurpador, o trono do reino do Bósforo é ocupado em circunstâncias desconhecidas por Espártoco V, que é o nome do fundador da dinastia. Sua origem exata é desconhecida, pode ser considerado o filho caçula do homônimo anterior Espártoco IV (245-240 a.C.). Mas isso é incerto. Pode ter sido também filho menor de Leucon II (240-210 a.C.) que assumiu o trono quando atingiu a maioridade e depôs ou afastou Hygiainon.
Moeda do reinado de Espártoco V
Sabe-se muito pouco de seu reinado, durante o qual ele cunhou moedas de cobre com a cabeça de Poseidon (deus grego do mar) e a inscrição "ПANTI" com uma cabeça barbada de sátiro (entidade da natureza metade humano, metade bode). Quando de sua morte, em torno de 180 a.C., ele foi sucedido por sua filha a Rainha Kamasarye Filotéknos e seu primeiro marido, um certo Perisades II.
O Reino do Bósforo (Bosporan kgdm) e reinos adjacentes
no início do reinado de Espártoco V (200 a.C.)

FONTES:
http://fr.wikipedia.org/wiki/Spartokos_V
http://en.museum-of-money.org/view/spartocus_v_about_200_185_b_c/
http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:World_200_BCE.PNG